segunda-feira, 28 de julho de 2014

eu sei que dia é hoje

Eu achei que nunca aconteceria. Eu achei que ia explodir em mil pedaços bem pequenininhos. Eu achei que ia evaporar. Eu achei que ia derreter. Eu achei que ia virar pedra. Eu achei que nunca aconteceria. Eu achei que nunca mais te veria. Eu torci para te ver, eu torci para nunca acontecer, nunca mais.

Eu desejei que as suas samambaias secassem, que sua cerveja esquentasse, que sua caipirinha viesse sem açúcar. Quando eu passasse por você de cara alegre e cruel. Você nem ia me reconhecer. Já ia me encontrar refeita. Tantos homens etc. Eu achei que teria coisas a dizer. Eu achei que nunca aconteceria.

Eu olhei para você três vezes. Na primeira eu olhei para você e fugi pra um lugar dentro de mim onde só são repetidas as cenas que me explicam por que não, que me garantem que, não, eu não posso olhar para você. Eu olhei uma vez só e esperei você ir embora, sumir da minha frente de novo. Você ficou. Eu senti muito frio.

A segunda vez que eu olhei para você foi um acidente, eu achei que você não estava mais ali. Eu entendi errado o que me disseram. Eu olhei para você. Eu explodi em mil pedaços bem pequenininhos. Eu evaporei. Eu derreti. Eu virei pedra. A minha mão nunca mais tocou a sua.

Na última vez que eu olhei para você foi indo embora. Eu olhei para você pela última vez, repetindo que não e por que não. Eu sei por que não, soube tantas vezes e mesmo assim eu fiquei. Até que eu entendi que de você não consigo ter só um pouco. Você estava certo. Aquele sei-lá-o-quê-que-nos-aproxima, que eu desastradamente chamei de amor. Eu olhei para você.

Eu ouvi a sua voz e senti uma saudade infinita. Você nunca mais me abraçou.

sábado, 26 de julho de 2014

De: mim
Para: Nath
Sabe aquele cara que tava dando friozinho na barriga? Esquece, Nath. Ele acabou de mandar uma mensagem "não estou sendo honesto com você. eu sou canalha."

Bom, pelo menos dessa vez levou apenas quatro dias pra me contar que é canalha, geralmente leva mais tempo, né?

De: Nath
Para: mim
Mas mesmo assim não vale a pena investir, Nata? Às vezes a gente tá disposta a se meter em roubada mesmo, às vezes vale a pena.

De: mim
Para: Nath
Nath, tivemos a conversa mais maluca do mundo. Não entendi nada, mas disse pra ele parar de palhaçada, que a gente ia sair sim, porque agora quem vai partir o coração dele sou eu. Faço questão.

quarta-feira, 23 de julho de 2014

Eu, muito bocó, me achando grande coisa porque ouço Sepultura enquanto faço faxina, tinha certeza que era a pessoa mais moderna do meu predinho antigo sem elevador com janelas grandes e paredes grossas.

Daí tava subindo com os entregadores do sofá, passou um vizinho que eu não conhecia. Você que mora embaixo de mim? Bom, eu moro no 302. É embaixo de mim, sim, eu moro no 402. Oi, tudo bem, prazer, Renata. Eu sou o M.

Eu, a mais moderna do prédio onde só tem família, só posso ser eu. Meu vizinho de cima, um velhinho todo tatuado usando uma bolsa masculina.

Que boba. =)