domingo, 22 de novembro de 2015

A primeira vez que eu usei um Uber foi porque tinha um compromisso em Santa Teresa e, não sei se você conhece Santa Teresa, mas todos os taxistas conhecem e odeiam e não querem te levar lá e quando levam vão reclamando do começo ao fim.

Bom, mas aí pedi e estava lá, esperando um carro preto. O carro preto chegou e eu fui logo abrir a porta. Não era um Uber não, tá bom? Não era não. Eu abri a porta do carro de uma mãe que estava buscando o marido e os filhos, que estavam bem ao meu lado na calçada e me olharam chocados. Eu gostaria de dizer que foi a primeira vez que eu tentei entrar no carro de alguém que não estava ali pra me buscar, mas quem eu vou enganar se eu disser isso?

Eu tomei uma cerveja depois do show, tava meio cheio então eu resolvi ir andando pra saída. O meu plano, eu sempre tenho um plano, era jogar a garrafinha fora, mas na saída não tinha lixeira. Eu não queria descer as escadas todas de novo pro pátio, o carro já ia chegar. O carro chegou e eu continuei sem achar uma lixeira. E foi assim que eu cheguei em casa com uma garrafa vazia dentro da minha bolsa.

quinta-feira, 19 de novembro de 2015

Depois da noite que nós passamos lendo poemas um para o outro.

Depois que você disse o quanto amava Bukowski e descreveu o que sentiu quando leu Bukowski pela primeira vez. A mesma sensação adolescente que eu tive. Você pronunciando Bukowski como os americanos pronunciam Bukowski. Eu também queria chutar tudo.

Depois que você acordou e me disse que estava ouvindo a minha leitura de Bluebird e como era bom me ouvir dizer um poema de manhã.

E porque você começou lendo Manuel Bandeira e eu não tinha como resistir.

segunda-feira, 2 de novembro de 2015

Pedi comida. Quando chegou e eu desci pra pegar, encontrei só a moto do entregador em frente ao prédio, sem entregador. Eu fiquei olhando pros lados, pensando se não tinham tocado o interfone do apartamento errado.

Daqui a pouco vem o entregador correndo, uma empada na mão.
-Oi, Renata? Desculpa, é que eu tive que comer essa empada.
-Hmm?
-Eu precisava comer essa empada. Um camarada meu é segurança ali daquela casa de festas, ele me gritou, me chamou pra comer uma empada. Eu não podia recusar. Ele ia ficar até chateado.

domingo, 11 de outubro de 2015

Eu sou viciada em assoviar. Quando percebo, tô assoviando. Só adulta me disseram que assovio incomoda as pessoas. Eu nunca saberia, na minha família todos assoviamos e a gente ainda tem um assovio próprio pra chamar uns aos outros, avisar que chegou em casa, que é o mesmo assovio que meu avô usava pra avisar que estava chegando.

Bom, aí aqui na minha casa eu assovio o tempo todo, porque eu amo mesmo assoviar. É uma das coisas que eu mais gosto de fazer na vida, assoviar.

E eu tenho um vizinho que também adora assoviar, parece. Toda vez que eu assovio na copa ou na cozinha ele acompanha lá do apartamento dele.

sexta-feira, 18 de setembro de 2015

Noto uma tendência nos primeiros encontros de homens que logo revelam seu mapa natal completo. Se antes você tinha que ficar ali, fazendo contorcionismo pra descobrir apenas o sol. "Hm, aniversário em outubro! Começo ou final? Mas final quando??", agora eles já falam sol, ascendente e lua.

Eu digo que é tendência porque aconteceu algumas vezes comigo. E eu ali, fingindo que tá tudo normal, mas já fazendo todas as sinastrias possíveis.

Tentando achar um padrão, percebo que todos os homens que revelaram seu mapa natal assim de cara tinham algo de gêmeos.

Não é à toa que vocês estão solteiros.

Eu se fosse geminiana ficava bem na minha. He.


nada contra geminianos. tenho até amigos que são. só que, né? difícil.


segunda-feira, 7 de setembro de 2015

Minha primeira aula de balé começou com uma hora inteira de alongamento. Eu fiquei pensando se já tinha sentido tanta dor na minha vida. Meu joelho saiu do lugar algumas vezes.


Nos exercícios em que uma pessoa força o corpo dela sobre o seu, sobre o meu, para forçar a abertura, para fazer com que o seu corpo dobre inteiro até sua cabeça encostar no chão, eu não sei pedir para parar. Nunca soube. 

Na minha vez de forçar o meu corpo sobre o corpo de outra pessoa até que o tronco dela encoste inteiro no chão, eu quero pedir desculpa, eu forço bem pouco o meu corpo, mesmo ouvindo que tudo bem, posso forçar mais. Eu quero pedir desculpa, pedir desculpa mil vezes.

segunda-feira, 24 de agosto de 2015

A minha mãe tem uma mania de luz de emergência. Durante toda a minha vida ela me deu lanternas para colocar na bolsa. Não importa quantas vezes eu diga que tenho uma lanterna no celular, eu sei que vou continuar ganhando luzes para usar numa situação de emergência em que eu tenha que me movimentar no escuro.

Quando eu saí de casa, a primeira coisa que ela me deu foi uma lâmpada de emergência, daquelas que você deixa carregando e liga quando acaba a luz. Não contente em saber que na minha casa tem uma lâmpada de emergência, ela me deu uma lanterna de emergência, uma lanterna que não usa pilhas, que eu tenho que carregar a cada três meses. Eu sei que tenho que carregar a lanterna a cada três meses porque minha mãe me obrigou a ler o manual dela mas, embora eu seja uma pessoa organizada - eu faço rodízio de uso de todos os talheres, copos e pratos da casa para que nenhum tenha mais marcas que os outros (OK, e um pouco obsessiva)- embora eu seja uma pessoa organizada, eu não consigo manter as luzes de emergência carregadas.

A minha mãe me pergunta regularmente se as minhas luzes de emergência estão carregadas. Eu digo que sim, mas a verdade é que eu não tenho ideia.

Outro dia faltou luz pela primeira vez à noite na minha casa. Eu tinha acabado de chegar do trabalho cheia de planos de fazer uma massa com abobrinha e bacon mas, mesmo tendo luzes de emergência suficientes para iluminar todo o meu pequeno predinho antigo, o que eu fiz foi correr pra tomar banho, jantar azeitonas e salame e me enfiar na cama esperando o sono chegar.

A luz voltou em 20 minutos. Antes do sono.

sábado, 15 de agosto de 2015

Os dois melhores conselhos da minha semana vieram da mesma pessoa:
1. Não deixa sua lua em escorpião espalhar a peste negra;
2. Que tal comemorar o que dá certo?

quinta-feira, 13 de agosto de 2015

Tive a sorte de pegar o trem mais uma vez com a Gisele, a vendedora de massageadores que entra no vagão falando "preparem seus ouvidos. preparem seus ouvidos." e quando você vê ela já tá gritando "EEEEEII! Meninaaas, chegueeei!"
A Gisele é uma pessoa incrível que anda pelo vagão dizendo "com licença, com licença" e fazendo massagem em todas. Então eu comprei um.

A mulher sentada ao meu lado virou pra mim e perguntou:
-Com quem você vai usar? Com o marido ou com o amante?
-Oi?
-Ah, com os dois, né? hahahahahaha.

quarta-feira, 5 de agosto de 2015

Tive um problema com a operadora do meu cartão de crédito e liguei pra cancelar o cartão. Ao contrário do que as pessoas me contam que acontece quando elas ligam pra cancelar o cartão, ninguém tentou me convencer a ficar. Ninguém me ofereceu nada pra eu desistir de ir embora e tentar de novo.


Eu liguei e disse "não gosto de ser tratada assim. eu não quero mais qualquer relacionamento com vocês" e a atendente não disse nada além de "já solicitei o cancelamento do cartão." Uns dias depois eu recebi uma carta em casa confirmando que meu cartão havia sido cancelado e que eu devia destruir "o plástico mencionado".

Foi tudo tão fácil, foi tudo tão simples.

domingo, 19 de julho de 2015

As pessoas me oferecem bebida e comida. Não parecem querer nada em troca. Dois homens no trem me ofereceram amendoim em dois dias diferentes. Num show, uma mulher chegou perto de mim e perguntou se eu bebia smirnoff. Disse que não bebo vodca, eu não bebo mais vodca, descobri outro dia. Só de ver a vodca caindo no copo meu estômago fica embrulhado, um arrepio de pavor. Eu costumava tomar pura, não tomo mais vodca. Eu disse que não bebo vodca, não disse todas as outras coisas, estômago embrulhado, 30 anos, arrepio, porque eram too much information.

Um homem parou perto de mim e quis fazer dois comentários. Um era que ele tava achando legal me ver sozinha no show, o outro é que ele nunca tinha visto uma fumante abanar a própria fumaça. Eu expliquei que não sou fumante, comecei a fumar porque as pessoas são chatas. As pessoas são chatas demais, então eu comecei a fumar em eventos sociais, porque as pessoas são chatas e odeiam fumantes. E que quando eu evoluir eu vou jogar a fumaça bem na cara das pessoas, pra elas deixarem de ser chatas, como são chatas, mas que por enquanto eu ainda fico abanando a minha própria fumaça. Não sei se ele entendeu minha proposta. Daí ele foi embora.

Roubaram meu anel no banheiro. Foi inacreditável. Eu estava usando dois anéis juntos, coloquei na pia para lavar as mãos. Não eram anéis de ouro, se fossem eu não os teria colocado na pia, teria lavado as mãos com eles. Um anel em cima do outro. Chegou uma mulher com muita pressa, puxando o papel com violência, eu esperei, sequei minhas mãos, olhei para baixo, só um anel. Achei queo outro tivesse caído no chão, na minha bolsa, no meu casaco. Não. Olhei o banheiro inteiro. Acho que roubaram, inacreditável.

Passei pelo homem de suéter de novo, ele me deu dois beijinhos e desejou sorte na vida. Disse assim mesmo, "boa sorte na vida, renata." Não entendi nada, mas agradeci. Que fora engraçado. Depois no bar ele apareceu de novo. Eu não devia fazer isso, mas vou ver se acho aqui um cartão meu, você me liga?, a gente tem que ser pelo menos amigo de facebook. Ele me deu o cartão, foi embora. Eu estou trabalhando, ninguém pode me ver fazendo isso. Com certeza um agente secreto.

Mandei mensagem, a esta altura eu já estava limpando uma mancha de mostarda da minha almofada nova. De manhã, entrei no site. Ele apresentava um programa que eu assistia, tem mil anos isso. Como eu sou tonta.

quarta-feira, 17 de junho de 2015

Eu sou um cliché da mulher de 30. É o que eu penso enquanto resolvo jantar só sobremesa. Sou um cliché da mulher de 30 atrapalhada protagonista de uma comédia romântica quando sujo meu cabelo todo de doce de leite. Talvez na próxima cena alguém sinta um cheiro doce, resolva investigar de onde vem e descubra que vem de mim. Só que eu não sou a protagonista atrapalhada de uma comédia romântica e no caminho para casa eu fico tensa reorganizando todos os meus planos porque agora a primeira coisa que eu vou fazer quando chegar em casa é tomar banho e não fazer bolinhos de arroz, agora só depois do banho eu vou fazer os bolinhos de arroz.

Você e eu e todos nós, os protagonistas clichés das nossas próprias vidas. Eu pensando em mim mesma enquanto compro leite fresco, a última das minhas frescuras, dos gastos que eu não preciso fazer mas faço, porque eu sou sozinha, acordo todos os dias às 6:30 então eu mereço leite com gosto de leite.

Você e eu e todos nós, comprando um livro do Caio Fernando Abreu, morrendo de medo de ser (mais) cliché. Protagonista da próxima cena cliché com uma vitrola, uma taça de vinho, meu robe florido. De que filme eu saí, que história eu estou contando?

Eu pensando que quero escrever sobre Lisboa, a única cidade depois de Paris que me deixou de coração apertado na hora de ir embora. A única cidade depois de Paris que eu deixei sabendo que ia voltar o quanto antes. Lisboa, a única cidade que eu digo pra todo mundo ir, só se pode amar Lisboa. Paris eu evito recomendar. Uma parte por ciúme, uma parte pra evitar o cliché. Mas eu vou chegar em casa, taça de vinho, meu robe florido e vou adiar mais uma vez escrever sobre Lisboa.

terça-feira, 12 de maio de 2015

Love the only way I know how

Enquanto eu procuro em outro lugar o que eu sentia com você, fico tentando identificar o que era. A gente tentou não dar nome, você tentou, eu também, a gente tentou não dar nome, dizer que não tinha nome o que era tão nosso. Teve aquela vez em que você tentou usar a palavra empatia. Aliás, fuck you for that. Aquilo que não tinha nome. Um quase que não dava tempo de fechar a porta. Aquilo que era, mais do que tudo, uma urgência. Para mim, uma urgência.

Eu me pergunto se vou encontrar essa urgência de novo na vida. Talvez não. Pensar que ela talvez só exista com você é tão cruel, porque pra você eu nunca mais vou voltar, nada faz mais sentido do que isso. Mas talvez ela só exista com você. Nunca foi tão urgente querer alguém.

Um coração mergulhado no azul. O meu, como o seu.

You bring out the Mexican in me.
The hunkered thick dark spiral.
The core of a heart howl.
The bitter bile.
The tequila lágrimas on Saturday all
through next weekend Sunday.
You are the one I'd let go the other loves for,
surrender my one-woman house.
Allow you red wine in bed,
even with my vintage lace linens.
Maybe. Maybe.

For you.

do poema You Bring Out the Mexican in Me, Sandra Cisneros (minha poeta preferida)

quinta-feira, 7 de maio de 2015

Talvez eu tenha perdido o controle em algum momento, talvez eu tenha exagerado, não sei mesmo dizer o que houve, mas acontece que fiz as contas e há 17 tigelas na minha casa.

Continuo morando sozinha.

Bom, eu e as tigelas.

quarta-feira, 6 de maio de 2015

O meu dia começou com um helicóptero sobrevoando a minha casa porque um trem descarrilou bem em frente. Já pronta pra sair eu descobri que minha calça tinha não apenas um, mas dois rasgos e tinha que ser trocada por outra o mais rápido possível. Fechando a porta, notei que combinei a cor do blazer com a do batom com a do esmalte, argh. Não tinha trem pra ir pro trabalho. Também não tinha ônibus, porque todas as pessoas saíram enlouquecidas atrás de um. E então no meio do dia eu perdi meu cartão do banco e para pedir que outro chegue na minha casa e não na agência eu preciso ir até uma agência, como uma neandertal, como se eu vivesse no século XX. A assistência técnica me explicou, assim sem tremer a voz nem nada, que o técnico não veio consertar o ar condicionado  no dia inteiro que eu fiquei esperando porque não achou vaga para estacionar na minha rua. A secretária do médico ligou para adiar a consulta e riu da minha cara quando eu expliquei que moro em Nova Iguaçu e nem pensar que vou até Copacabana num sábado só porque meu joelho sai do lugar às vezes. Nenhum caixa eletrônico funcionava sem cartão. No ônibus, a pessoa do meu lado achou que era uma boa ideia comer um cachorro-quente.

E foi assim que no fim do dia eu me vi abraçada a uma abóbora no supermercado. Eu e a abóbora. Até que uma pessoa ficou fazendo psiu, psiu, psiu pra mim. Pra mim e para a abóbora. E quando eu virei, era uma funcionária me perguntando se eu queria que ela cortasse a abóbora pra mim.
-Ah, você corta abóboras?

De alguma forma a minha reação fez sentido para ela, talvez ela já tenha tido muitos dias ruins e saiba que cara a gente faz ao final deles. Ela delicadamente tirou a abóbora de mim e me devolveu apenas metade dela, o que impediu que eu viesse para casa abraçada a uma abóbora inteira, que era o meu não-plano de quem não está pensando em nada além de "preciso de uma sopa".

sexta-feira, 1 de maio de 2015

Eu estava mostrando o perfil de um cara num app de paquerinha. Ele tinha umas fotos bem malucas. Na descrição, muitas palavras em inglês, tipo experimental, art, terror, post-punk, gender.

Eu estava defendendo o argumento de que no Rio todo mundo é artista.

-Olha, esse homem não é hétero. Ele apareceu pra você por engano.
-Não, que isso? Nós demos match em dois aplicativos diferentes.
-Você tá dizendo que deu like nesse homem?

Mas é claro que dei. Se eu não der like nesse homem, como é que eu vou conseguir continuar solteira?
...
Estou lendo um memoir sobre viver como uma mulher solteira. Chama Spinster, da Kate Bolick e eu recomendo pra todo mundo que pensa "hmm, ainda não." =)

domingo, 12 de abril de 2015

Estação de trem de Nova Iguaçu, domingo: mulher na plataforma em frente pega um cigarro e começa a procurar alguma coisa na bolsa.

Homem na mesma plataforma que eu pula da plataforma, atravessa os trilhos com um isqueiro entre os dentes, sobe na outra plataforma e acende o cigarro da moça.

quarta-feira, 8 de abril de 2015

Meu irmão e eu sempre dividimos as coisas muito bem. Se tinha uma bandeja com quatro iogurtes, dois eram dele, dois meus. Se tinha dois bombons, um era dele, um meu. A gente nunca comia a comida do irmão, mesmo que o irmão demorasse pra comer. mesmo que o irmão guardasse o iogurte pra comer vagarosamente de colherzinha de café na sua frente, depois de você já ter comido o seu.

Corta para a gente adulto. Eu tenho 32 anos, meu irmão, 28. A gente nem mora mais na mesma casa. Meu irmão conta, num almoço de família, que foi na minha casa enquanto eu não estava, para deixar uma coisa para mim, a pedido da minha mãe.


-Aí tinha meio coelho de chocolate na mesa. E eu comi um pedaço.
...
Ano passado eu tava em casa, o interfone tocou, atendi, a pessoa disse só "oi!" e depois sumiu. Achei que tinha reconhecido a voz, liguei pro meu irmão.
-Rafael, foi você que tocou o interfone aqui de casa?
-Sim. Toquei a campainha e corri.


quarta-feira, 1 de abril de 2015

estou ótima

Estou ótima. Estou ótima aqui com meus amigos e meus choppinhos. Estou ótima com meu emprego, estou ótima com minhas roupas novas. Estou ótima aqui com esse GI Joe dizendo "please, tell me if I'm too rough." Estou ótima porque ele não me conhece, não sabe que eu nunca vou dizer when. Estou ótima. Estou péssima. Estou péssima sonhando com a sua escova de dentes como se ela fosse minha, depois de tanto tempo. Péssima tendo que dizer "olha, você é legal e eu adoraria gostar de você, mas eu sinto falta de frio na barriga." Péssima pensando que você me escondeu quando devia ter escondido ela. Péssima porque eu sei que não teria feito diferença nenhuma. Estou ótima, comprei um monte de sapatos novos. Estou ótima, planejando minha próxima viagem. Estou ótima, comprando coisas pra minha casa. Estou péssima, a rolha quebrou bem no gargalho e eu tive que empurrar pra dentro com uma faca. Estou ótima, indo a vários shows. Estou péssima, não quero sair de casa.

Essa camiseta que não era minha e agora é. Vou dormir com ela, porque estou péssima, porque estou ótima.

quarta-feira, 25 de fevereiro de 2015

Um primeiro encontro na minha casa. Um primeiro encontro em que eu desço pra abrir o portão com um saco de lixo na mão. Um primeiro encontro em que não tem cordeiro. Um primeiro encontro em que eu cozinho. Um primeiro encontro para o qual você traz seu sorvete preferido. Um primeiro encontro com cerveja. Com vinho. Com café. Um primeiro encontro com você de meias. Um primeiro encontro em que você não era quem eu achava que fosse. Um primeiro encontro em que eu tenho certeza que não sou seu tipo. Um primeiro encontro em que você faz piada d'A origem do mundo na porta da minha geladeira. Um primeiro encontro em que você faz piada com a minha água com gás. Um primeiro encontro em que você não conhece a banda que eu coloquei na vitrola.

Um amor atrás do outro atrás do outro e mais outro.

sábado, 21 de fevereiro de 2015

Meu ortopedista novo é muito animado. Meu ortopedista novo só trata de joelhos. Ele não trata de nenhuma outra parte do corpo, só joelho mesmo. Meu ortopedista novo, segundo um comentário numa cirurgia de joelho no YouTube, é "o cara pra tratar joelho". Meu ortopedista novo pediu exames que os outros ortopedistas não pediram. Meu ortopedista novo se despede com um beijinho na bochecha.

Meu ortopedista novo apareceu na minha vida depois que meu joelho saiu do lugar de novo. Só doeu metade da dor da primeira vez. É uma piada. Mas é verdade também. Meu ortopedista novo disse que minha patela é errada, sempre foi errada, deve ter nascido errada. E que um dia ela ia sair do lugar. E que é mais ou menos nessa idade que sai do lugar mesmo. Meu ortopedista novo disse que eu estou no limite. Mais de duas luxações em um ano e tem que operar com certeza. Meu ortopedista novo precisa ver os exames novos pra começar o tratamento do zero.

Meu ortopedista novo tem uma foto na internet ao lado de um esqueleto de dinossauro. Meu ortopedista novo me mandou usar um outro tipo de joelheira. A joelheira nova custa centenas de reais. Meu ortopedista novo diz que meu pé direito é um pouco torto. E que se eu tivesse pernas de tesourinha seria muito pior. Eu tinha pernas de tesourinha quando era criança, usei uma sandália ortopédica para corrigir. Devia ter usado uma bota, mas minha mãe mandou fazer branca e com uma abertura para os dedinhos pra não ficar tão feia. A bota ortopédica não combinava com nenhuma das minhas roupas.

Meu ortopedista novo mexeu o joelho esquerdo em todas as direções e perguntou se eu sentia apreensão. Depois mexeu o joelho que saiu do lugar em todas as direções e perguntou se eu sentia apreensão. Sim, se apreensão for a mesma coisa que um medo que faz meu coração pular, sim, apreensão.

Eu odeio ter um ortopedista novo.

terça-feira, 13 de janeiro de 2015

Estou atrasada com os comentários.
O post novo é velho.
O blog não vai acabar, eu gosto dele, gosto de ter um blog.
Mas eu não tenho como manter a frequência de postagens de 2007.
Eu já pensei que o natural é migrar para o Facebook, escrever lá coisas pequenas, como eu fazia antes aqui, mas nem todo mundo está lá, não funciona direito como arquivo, não é igual.

Então o blog fica aqui, meio abandonado, sem entender o que aconteceu com ele. Acontece. Muitas vezes eu também demoro a entender o que aconteceu e a decidir pra onde eu vou. E enquanto isso a gente vai indo, eu, o blog, todo mundo.

Eu tenho um ex por quem eu me apaixonei assim que vi, ele tava com uma camiseta de banda. Eu não sei se está certo chamar esse cara de ex, mas eu não tenho um outro nome. Ex significa pessoa que deixou de ser alguma coisa. Alguma coisa era bem o que ele era. Ele nunca teve nome e quando acabou virou ex, só, ex sozinho, sem explicação do que ele deixou de ser.

Ele estava com uma camiseta da minha banda preferida, se eu tivesse que escolher um disco só pra ouvir pro resto da vida seria deles, uma música só também. Muito tempo depois eu contei pra ele que me apaixonei por ele assim que vi a camiseta. Eu não sei se disse "me apaixonei", é bem provável que não, porque com ele eu só usava amor por escrito. 

Mais tempo ainda depois, ele me deu uma camiseta igual a dele. Eu poderia ter dado muitos significados à camiseta, mas não encontrei nenhum naquele momento e nem muitos momentos depois daquele e agora isso não importa mais.

Agora eu acho, isso já faz bastante tempo, agora eu acho que ele me deu a camiseta porque me entendia melhor do que eu entendia a ele.

A gente era igual, um monte de distorção. Agora eu acho, já faz bastante tempo, que aquela camiseta era para me explicar por que não, por que nunca, mesmo que ele não soubesse.