quinta-feira, 10 de novembro de 2016

"Amiga, desculpa, eu sei que eu prometi, mas não vai dar. Se eu te der o cabelo eu fico sem. Eu achei que ia dar pra comprar cabelo novo, mas não vai rolar. Amiga, você me perdoa? Eu queria muito te ajudar, mas se eu te der o meu aplique vai faltar pra mim. Amiga, me perdoa? Eu sei que eu prometi, amiga, mas não vou poder. Amiga, você me perdoa?"

"Eu não vou convidar ela. Nem pensar. Ela não me deu nenhuma força quando eu precisei. É só um churrasco pra família, alguns amigos. Mas ela eu não vou convidar. Eu sei o que ela fala de mim. Eu vou convidar minha mãe, mas eu não vou convidar ela. Não comenta nada, por favor, porque eu não vou convidar ela.
...
Mãe? Oi, mãe, eu tô ligando pra dizer que eu vou fazer um churrasco de aniversário e pra te convidar. Eu não vou convidar a tia Lúcia, viu? Nem ela nem ninguém da família dela. É coisa pequena, só um churrasco de aniversário. Você tem como ir? Eu não vou convidar a tia Lúcia, hein, mãe? Não comenta nada, por favor."

"tec tec tec tec tec tec"

"Você sabe de alguma coisa por aí? Eu tenho dois aluguéis já pra dar de depósito. Não, eu vou parar com o caminhão na porta e encher com as minhas coisas. Eu não vou avisar a ele não, eu cansei. Eu cansei. Eu vou só parar com o caminhão no portão e colocar minhas coisas. O sofá eu vou levar. A gente comprou junto, ele disse pra gente comprar, mas quem pagou as prestações fui eu. Eu vou levar o sofá, eu que paguei. Quando eu perdoei, a minha filha tinha dois anos. Eu queria que ela tivesse uma família, mas agora chega. Eu voltei a trabalhar e ela ficou com a minha sogra. A minha sogra sempre me ajudou, mas um dia eu vi a minha filha chamar ela de mãe. Isso acabou comigo. Eu não aguentei, larguei o emprego pra ficar só com ela. Aí ele fez aquilo e eu perdoei. Ela tinha dois anos, eu não trabalhava, eu queria que ela tivesse uma família. Agora chega, eu vou parar com o caminhão lá e levar minhas coisas. Que homem? Eu não tenho pai, não tenho irmão, quem vai comigo buscar minhas coisas? Não tenho pra quem pedir. Mas ele não vai fazer nada, ele não é bobo. O sofá é meu, eu paguei as prestações, eu vou levar."

"Ai, vamos! É quintaneja, vamos! A gente compra um combo de red bull e absolut. Ah, vamos! Ué, eu tô solteira, eu vou aproveitar sim. A gente vai e volta de táxi. Eu não tenho como dirigir depois, não. Eu amassei o carro da última vez. E ele tá bem? Ué, chifre trocado não dói. Mas ele tá bem? Ué, aguentando, eu durmo e tô nova no dia seguinte. Vamos? Vambora, vai se arrumando que eu tô chegando em casa."


(pessoas no telefone no meu caminho para casa)

terça-feira, 8 de novembro de 2016

Não tenho um dia certo, mas sei que faz um ano. Todos aqueles meses que eu passei me afogando, coberta por uma sensação que eu não tenho como descrever.

Não tenho um dia certo, mas faz um ano que acabou. E tem dias que eu me olho no espelho e me parece inacreditável ter ficado.

Ainda estou aqui.